Uso consciente da internet pode ser tema de aula
Projeto pretende tornar obrigatório nas escolas públicas programa que alerta crianças e adolescentes para os perigos do uso inadequado da rede
Texto publicado na edição impressa de 19 de outubro de 2010
“As crianças devem ser preparadas para se defender das armadilhas da web, desde a pedofilia e conteúdos inadequados, até os politicamente incorretos e hostis aos direitos humanos, como cyberbulling. A escola não pode ignorar que a internet faz parte da realidade dos jovens”, afirma Greca.
O programa, que teria duração mínima de 12 horas semestrais, seria elaborado pela Secretaria de Estado da Educação (Seed). Professores elogiaram a iniciativa, que pode dar mais subsídios para que se trabalhe com os alunos um tema delicado. Uma busca rápida no Google pelos termos “adolescente” e “webcam” traz mais de 500 mil resultados, a maioria com notícias e páginas sobre jovens, meninas em sua maioria, que aceitaram mostrar partes do corpo e até mesmo manter relações sexuais em frente da câmera.
Para a pedagoga e especialista em segurança em internet Danielle Lourenço, a proposta acerta ao conferir à escola tal responsabilidade. Ela lembra que muitos episódios polêmicos, como brigas marcadas pela internet ou de jovens que mantiveram relações sexuais em frente da webcam, começam na escola. “O projeto é fundamental, e como dizem os próprios jovens: demorou. Já deveria haver algo nesses moldes”, brinca Danielle. “Só tenho uma preocupação: o professor ainda não está preparado para lidar com essas tecnologias. Será preciso ter dentro da secretaria alguém muito bem familiarizado com essas ferramentas.”
A professora Elizabete dos Santos, diretora da Diretoria de Tecnologias Educacionais (Ditec), da Seed, diz que a proposta é apropriada. “A escola certamente tem a responsabilidade de fazer essa discussão, já que trabalhamos a inclusão digital. Na escola, utilizamos a internet como fonte de pesquisa, mas sabemos que há outras atividades que oferecem riscos.” Elizabete, no entanto, faz um alerta: o projeto precisa ser discutido com a comunidade escolar, o que ainda não foi feito. “Um projeto que envolva a escola e tenha consequências sobre ela tem de ser discutido com todos os segmentos que nela atuam, como professores, funcionários, pais e alunos. Não podemos pensar em um projeto como esse desvinculado de uma discussão prévia.”
Integração
Outra questão levantada pelos professores diz respeito à responsabilidade dos pais em intermediar a relação dos filhos com a internet, dever que não pode ficar apenas a cargo da escola. “A importância da família é fundamental. Há alunos que chegam a dormir em sala de aula porque ficaram até tarde na internet, e os pais não impuseram limites. Se os pais não nos derem apoio, o projeto não terá sentido”, afirma a professora Eliane Pereira da Cruz, coordenadora pedagógica do Colégio Estadual Alcyone Velozzo, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), que atua na rede estadual de ensino há 33 anos. O professor de Geografia Ilson Rudniak, que também dá aulas de informática no colégio, concorda: “A escola pode ensinar, mas cabe aos pais fiscalizar e impor regras”.
O coordenador da ONG Parceria para a Proteção da Criança e do Adolescente (CPP-Brasil), Luiz Rossi, que realizou uma pesquisa sobre o uso de Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) por meninas adolescentes, acredita que a lei é bem-vinda, mas alerta que a escola não pode ser o único meio onde os jovens devem receber orientações sobre como proceder na “vida on-line”. Rossi lembra que, ao chegar ao ensino médio, muitos jovens abandonam a escola. Logo, é preciso que outros setores da sociedade se integrem para garantir que eles terão acesso a essas informações. “Infelizmente, a taxa de evasão ainda é muito grande. Se dependermos apenas da escola, vamos perder esses jovens. A iniciativa tem de estar integrada com ONGs, telecentros, lan houses e a família, que também devem passar orientações.”
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