terça-feira, 18 de agosto de 2015

Meninas não se sentem seguras on-line

 Jovens têm dificuldades para identificar crimes na rede: despreparo pode ser amenizado com programas de alerta nas escolas |

Uso consciente da internet pode ser tema de aula

Projeto pretende tornar obrigatório nas escolas públicas programa que alerta crianças e adolescentes para os perigos do uso inadequado da rede

Texto publicado na edição impressa de 19 de outubro de 2010


Está em tramitação na Assembleia Legislativa do Paraná um projeto de lei que pode tornar obrigatório o ensino de internet nas escolas do estado. A proposta, de autoria do deputado Rafael Greca, ainda está sendo analisada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa e, caso aprovada, pode entrar em vigor em 2012. O objetivo da medida é conscientizar crianças e adolescentes dos ensinos fundamental e médio das escolas estaduais sobre os riscos decorrentes do uso inadequado de redes sociais como Orkut, Facebook e Twitter, além de e-mails e salas de bate-papo.
“As crianças devem ser preparadas para se defender das armadilhas da web, desde a pedofilia e conteúdos inadequados, até os politicamente incorretos e hostis aos direitos humanos, como cyberbulling. A escola não pode ignorar que a internet faz parte da realidade dos jovens”, afirma Greca.
O programa, que teria duração mínima de 12 horas semestrais, seria elaborado pela Secretaria de Estado da Educação (Seed). Profes­sores elogiaram a iniciativa, que pode dar mais subsídios para que se trabalhe com os alunos um tema delicado. Uma busca rápida no Google pelos termos “adolescente” e “webcam” traz mais de 500 mil resultados, a maioria com notícias e páginas sobre jovens, meninas em sua maioria, que aceitaram mostrar partes do corpo e até mesmo manter relações sexuais em frente da câmera.
Para a pedagoga e especialista em segurança em internet Daniel­le Lourenço, a proposta acerta ao conferir à escola tal responsabilidade. Ela lembra que muitos episódios polêmicos, como brigas marcadas pela internet ou de jovens que mantiveram relações sexuais em frente da webcam, começam na escola. “O projeto é fundamental, e como dizem os próprios jo­­vens: demorou. Já deveria haver algo nesses moldes”, brinca Da­­nielle. “Só tenho uma preocupação: o professor ainda não está pre­parado para lidar com essas tec­nolo­gias. Será preciso ter dentro da se­cretaria alguém muito bem fa­­miliarizado com essas ferramentas.”
A professora Elizabete dos Santos, diretora da Diretoria de Tecnologias Educacionais (Ditec), da Seed, diz que a proposta é apropriada. “A escola certamente tem a responsabilidade de fazer essa discussão, já que trabalhamos a inclusão digital. Na escola, utilizamos a internet como fonte de pesquisa, mas sabemos que há outras atividades que oferecem riscos.” Elizabete, no entanto, faz um alerta: o projeto precisa ser discutido com a comunidade escolar, o que ainda não foi feito. “Um projeto que envolva a escola e tenha consequências sobre ela tem de ser discutido com todos os segmentos que nela atuam, como professores, funcionários, pais e alunos. Não podemos pensar em um projeto como esse desvinculado de uma discussão prévia.”
Integração
Outra questão levantada pelos professores diz respeito à responsabilidade dos pais em intermediar a relação dos filhos com a internet, dever que não pode ficar apenas a cargo da escola. “A importância da família é fundamental. Há alunos que chegam a dormir em sala de aula porque ficaram até tarde na internet, e os pais não impuseram limites. Se os pais não nos derem apoio, o projeto não terá sentido”, afirma a professora Eliane Pereira da Cruz, coordenadora pedagógica do Colégio Estadual Alcyone Velozzo, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), que atua na rede estadual de ensino há 33 anos. O professor de Geografia Ilson Rudniak, que também dá aulas de informática no colégio, concorda: “A escola pode ensinar, mas cabe aos pais fiscalizar e impor regras”.
O coordenador da ONG Parceria para a Proteção da Criança e do Adolescente (CPP-Brasil), Luiz Rossi, que realizou uma pesquisa sobre o uso de Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) por meninas adolescentes, acredita que a lei é bem-vinda, mas alerta que a escola não pode ser o único meio onde os jovens devem receber orientações sobre como proceder na “vida on-line”. Rossi lembra que, ao chegar ao ensino médio, muitos jovens abandonam a escola. Logo, é preciso que outros setores da sociedade se integrem para garantir que eles terão acesso a essas informações. “Infelizmente, a taxa de evasão ainda é muito grande. Se dependermos apenas da escola, vamos perder esses jovens. A iniciativa tem de estar integrada com ONGs, telecentros, lan houses e a família, que também devem passar orientações.”
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